17 de janeiro de 2016

O que é ser mãe adolescente?

(c) Vitória Morais

Esse texto é exclusivamente pra dois clãs: os que têm preconceito e as que estão passando por isso. E também, uma crítica a Caroline de 2014 pra baixo. E lhes asseguro que o texto vai ser enorme!

Mas primeiro, quem era a Caroline de 2014 pra baixo? 
Quem me conhece desde os primórdios sabe que eu era uma pessoa insuportável, tava na minha fase meio emo revoltada (embora insistisse em dizer que não era emo, era punk — Sid Vicious se revirou no caixão de tanto rir) e que durou pra caramba e ainda acho que estaria durando se não fosse o Benjamin entrar na minha vida, ainda acredito que tenha entrado só pra me tirar desse mundo onde eu escrevia "I wanna die" na parede (oremos). Era da raça ruim que odiava funkeiros e compartilhava coisas originais no Facebook como "hur bolsa fone-de-ouvido para funkeiro que pega ônibus" sendo que nunca na vida eu entrei num ônibus e tinha funkeiro ouvindo música alta, mas OK; também a ideia de que as pessoas não gostavam do que eu gostava era insuportável, gente, como assim o mundo não gosta de Twisted Sister no volume máximo? COMO ASSIM existe gente que gosta de Big Brother Brasil? Não, o mundo tá errado e eu tô certa!

O que eu, atual mãe adolescente, achava sobre gravidez nesse período? 
"Meu, pára o mundo que pessoas fazem 'coisinha' antes de se casar e ainda têm filho durante a adolescência? São tudo funkeira!" Essa era eu, dona de uma personalidade incrivelmente ridícula que eu julgava como superior pois não gostava de pagode e preferia ficar em casa olhando Chaves do que ir à uma festa (tá, isso não mudou). Eu via aquelas gurias com crianças no colo, pode até ser que eram sobrinhas ou sei lá, e já abria a boca ou ficava pensando "nossa cara, como assim, olha isso, que pouca vergonha", não hesitava em falar alguma idiotice pra mim mesma ou um comentário maldoso pra quem estava em volta. E hoje eu penso: não, cara. Pára, Carol, pára!
Vocês já devem ter entrado no Facebook e visto aquela galera nos comentários se achando os donos do balacobaco só porque escutam Slipknot e não usam roupas curtas. GENTE, século XXI, ano 2016, já inventaram até o skate voador do Marty McFly e vocês se achando a última bolacha do pacote só porque, na opinião de vocês, The Beatles é cultura e samba é ridículo? Pó pará ou pó mudá daqui, por favor, porque assim como eu saí dessa onda, o globo terrestre também pode sair.


Como eu aceitei? E os meus pais?
Tudo mudou quando o meu exame de anemia deu um resultado "a mais" do que o esperado. Claro, foi motivo de pânico pra todos, principalmente pra mim, pois eu estava prestes a realizar meu sonho de fazer um intercâmbio, tinha nem escolhido lugar, só sabia que tinha condições e que eu tinha convencido meu pai. Tudo parou durante uma semana, que foi a semana mais longa da minha vida, na época, eu pensei milhões de idiotices, não me perdoei por ter acontecido aquilo, me senti uma bela duma hipócrita. Foi uma semana de puro choro, desespero, deitada no sofá sem forças pra reagir pra nada, um drama fora de série. Nunca na minha vida eu iria cogitar ser mãe adolescente, na verdade, ninguém cogita, todo mundo vê casos reais, julga e ainda ousa repetir que nunca seria tão trouxa assim mas acontece. É normal me perguntarem sobre a reação dos meus pais, mas na verdade, a reação foi minha, pois foi minha mãe que me contou que eu estava (aloka) e logo depois meu pai descobriu mas não reagiu mal, até fez piadinha de bom grado, o que me ensinou que muitas vezes as pessoas surpreendem que é um inferno, porque tu até fica irritada consigo mesmo "eu realmente me desesperei por quinhentos meses pra eles nem reagirem mal?" pois é!
Até que enfim a semana passou e tudo começou a clarear, me lembro que aceitei quando fui tomar banho e, embaixo do chuveiro, fui lavar a barriga e me peguei fazendo carinho, desde ali eu fiquei imaginando "Será que é um moço ou uma moça? Qual vai ser o nome se for tal coisa?", aí foram esvaecendo ao ver as primeiras ecografias, ouvir o coraçãozinho pela primeira vez, o lado psicológico SENTIR que tem outro ser dentro de ti e se sentir bem com isso. Pode demorar de uma pessoa pra outra, mas a aceitação vem, e a felicidade vem logo após, principalmente depois de receber os primeiros presentinhos, primeiros olhares de pessoas próximas empolgadas e até você se imaginando num futuro levando a criança pra escola...

O que eu tenho pra te falar caso esteja passando por isso?
Pode ser até ridículo ler algo quando você logo descobriu uma gravidez, mas sem o Benjamin, eu não seria quem eu sou. Toda compaixão que eu não tinha, eu tenho até demais, o mesmo vale pra vários sentimentos bons, como o amor pelos outros; ter uma criança realmente vai te mudar e nem precisa se preparar pra isso, tenho certeza que tu vai até gostar da sua Eu 2.0. Eu me tornei mais humana.
Difícil vai ser, tu vai chorar mil vezes quando seus "tutores" não demonstrarem o mínimo de paciência contigo, quando teu bebê chegar numa fase que fica bravo contigo e se apega à uma avó ou sei lá quem, quando começar a trabalhar e notar que não tem mais tempo com ele como gostaria e entre mil e outras coisas, mas passa. Ser mãe te desperta vários lados e um deles é essa sensibilidade, eu pelo menos fiquei um porre de tão chorona. rere
Tá pensando em "não tenho emprego, meus pais vão se decepcionar e não tenho como comprar fralda?". Primeiro, teus pais não vão te odiar, eles podem até se decepcionar por hora, mas não dura e aff seje menas pais, até parece que a galera de 1970 pra baixo não teve filho e se casou com quinze anos também hahahaha. Fraldas? Eu tenho a dica perfeita, que veio através do padrinho do Benjamin, o Felipe, namorido da minha irmã, consiste em fazer um chá de fralda e só pedir o quê? ISSO MESMO, fralda (pelo amor de Deus, só peçam fraldas M, de modo maneira peçam fraldas RN ou P) e no máximo uma Hipoglós (sem amêndoas porque a criança pode ser alérgica, como no caso do meu), que são itens necessários.

Mas e se a família não gostar? Os olhares das pessoas na rua?
Que se danem. Fim. :') Mentira hehe, mas é basicamente isso. No momento em que não vão te ajudar em nada, que não se preocupam e nem ligam pra saber de você ou da criança, o melhor a se fazer é ignorar porque tu já viu que aí tem maçã podre. :'D O que a tua família, amigas e pessoas em volta precisam saber é que isso acontece muito e acontece com pessoas em volta, meio que todos correm o risco, desde que seja um remédio que falhou ou sei lá. E as pessoas da rua nem te conhecem, o máximo que vão fazer é textão moralista ridículo no Facebook generalizando mamães jovens.


É motivo de desespero momentâneo, o que eu asseguro é que esse desespero passa, pode demorar uns meses ou não mas passa, tem gente que não quer "viver pra ver os olhares maldosos na rua" mas gente, eu quando saio com o Benjamin tenho vontade até de gritar pra quem me encara "é meu filho sim, e aí? Quer ser madrinha?" haha porque, o número é exato, zero pessoas tem a ver com isso!

E o melhor, tu não está sozinha!

8 comentários:

  1. Excelente texto prima, parabéns, realmente ser mãe muda muito agente, eu não fui mãe adolescente mas minha pequena anjinha consegue tudo de mim apenas com um sorriso. E qual é a mãe que não se derrete neh? Parabéns por belas palavras e parabéns pelo filho lindo que tens,e nao esquece muitas afolescentes não tiveram o mesmo apoio q vc teve quando descobriu a gravidez então por isso muitas se isolam. Mas vou compartilhar este teu texto para as pessoas lerem e ver q gravidez não eh um bicho de sete cabeças. Nós aprendemos muito com esses pequenos!!!

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    1. Sim sim, realmente não são todas pessoas que têm apoio, mas sigo fazendo textos pra que as conforte e elas notem que também são capazes, mesmo sem um adulto por perto! :-) Somos uma força! ^-^

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  2. Hey Carol... Curti realmente seu post, até me fez repensar algumas ideias, é realmente nice ver esse amor materno ainda vivo.. quer dizer, tantas mulheres se tornando mães, adolescentes ou não e estando "nem ai" pros filhos e os tratando como algo que estragaram suas vidas e planos. Quer dizer, pelo menos tu não se arrepende, você vai amar seu filho ele tendo sido planejado ou não e vai ensina-lo a amar o próximo do mesmo jeito ^^ Muito nice!

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    1. Vou ensinar ele a amar, vou ensinar ele tudo que me ensinaram de bom e a gostar de Guns N' Roses que nem nós, parça! hahaha \o

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  3. Carol, sempre me surpreendendo, excelente reflexão, texto perfeito.

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    1. Muito obrigada, Anna. <3 Agradeço a leitura e mais ainda que tenha gostado! ^-^

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  4. Texto fantástico, não consigo nem imaginar as dificuldades e como deve ter sido essa "uma semana" mas você é uma guerreira, e meu, que criança mais linda! To apaixonada, sério.
    Beijão e parabéns, ter filhos não é fácil e imagino que na adolescência deva ser até mais difícil, mas pelo tom do texto e suas pontuações imagino que esteja se saindo mais do que bem!

    www.carolpestana.com

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    1. Não vou mentir em dizer que não há dificuldades ou que é exatamente igual a ser mãe numa idade mais avançada, mas não é algo horrível, e com ajuda se torna algo simplesmente... Simples.
      Obrigada por mim e pelo Benjamin pelos elogios, seja bem vinda. <31

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